"Twin Peaks" a celebrada série do Diretor David Lynch chega ao século XXI recheada de coisas estranhas, não que o significado de "coisas estranhas" não façam parte do ritual cinematográfico do mesmo diretor. Os dois primeiros filmes que assisti de Lynch foram os premiados no Oscar e em Cannes Elephant Man (1980) e Veludo Azul (1985) assistido no antigo Cine Capitólio no centro de Pelotas. Deste mesmo filão assisti a obra Duna (1984) escrita pelo visionário Frank Herbert e que faz Lynch viajar no mundo da ficção científica.
Ressalto que Peaks 2017 é uma série de suspense comprimida em dezoito episódios onde são retratados os lados obscuros tanto dos protagonistas agente Dale Cooper (Kyle MacLachlan) e Laura Palmer (Sheril Lee), quanto dos outros personagens antigos e a inserção de novos incluindo o próprio David Lynch e diga-se de passagem David Bowie de certa forma em "carne e osso".
É uma releitura clássica da década de 80 com novos conceitos enquadrados no século XXI, se você viu a série original e ficou se perguntando o que é aquela "nave" com azulejos brancos e vermelhos paralelos no espaço em que vários personagens ficam se encontrando e passeando nos corredores entre as cortinas, onde aparecem criaturas bizarras e o abismo entre a realidade e o espírito de cada um? Posso responder que se trata de um Looping Interfásico Temporal, ou seja, durante um limite interfásico de tempo as coisas ficam se repetindo durante horas, minutos e segundos onde um feixe imaginário e ações dos personagens ficam se passando e se mesclando durante os 25 anos com suas devidas repercusões, mas para quem tem estômago (como eu) para assistir filmes do mesmo diretor como Rabbits (2002), o curta metragem King Shot, Império dos Sonhos (2006) e Estrada Perdida (1997) sabe que Lynch é um dos únicos diretores de cinema que não atravessou por uma fase ruim. A franquia Star Trek contém inúmeros episódios desde seu início que exploram o Looping Temporal até a recente nave Discovery em seu sétimo episódio.
Quem está conhecendo David Lynch agora não imagina o quão humana e normal é sua vida particular, todas as loucuras e viagens dele são inversamente proporcionais a suas ações, ele é um sujeito todo família, domina a sétima arte e a pintura, confraterniza com os amigos como está retratado em D.L.: a Vida de um Artista de 2016.
Pensando mais afundo neste final de ano, acredito que a 3ª temporada é menos universalista que as outras e mais dedicada aos fãs de Twin Peaks pelo esforço e tentativa de explorar um número grande de personagens tão diferentes e uma chaleira gigante.