terça-feira, 19 de julho de 2016

Meu Amigo Punk

Era o final da ditadura militar e o nascimento da chamada "Nova República" lá pelos idos de 1988, somos de uma geração que curte muito rock. O movimento nacional crescia na década de 80 e as bandas de rock deixaram uma marca inesquecível em São Paulo (Ira!, Ultraje a Rigor,  Titãs, Ratos de Porão...), Rio (Lobão, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha...) Rio Grande do Sul (Engenheiros do Hawaii, Replicantes, Nenhum de Nós, TNT,,,), Brasília (Legião Urbana, Plebe Rude e "argh!" o  Capital Inicial), Minas Gerais (Sepultura), de resto um bom etc. 

Fui estudar na Escola Técnica de Pelotas meio contrariado e era meio radical, mais me enturmava com vários amigos do que estudava e acabei conhecendo um cara metido a Punk, só que o cara não era apenas "metido a Punk", ele era Punk e dava um medo medonho de levar uma porrada de graça porque eu andava com os Hippies e tínhamos umas richas com o pessoal do metal pesado, depois é que fui saber que os Punks não tavam nem aí.

Havia um festival de música anual chamado Acalanto, eu estava numa apresentação do coral da ETFPel, pra dizer a verdade eu só mexia e abria a boca que nem jogador da seleção brasileira quando vai cantar o hino nacional nas partidas amistosas ou de campeonatos.

Pois bem, fui no banheiro pra tirar o uniforme do coral e, encontro meu amigo punk, o Arisko, passando sabão na cabeça pra fazer um moicano porque os guris da banda (sim, nós tinhamos uma banda punk) tinham esquecido o gel de cabelo pra arrepiar o couro cabeludo, tive a cara de pau de dizer para minha mãe e minha tia que ia me apresentar com minha banda. Junto do meu amigo Punk estavam o Feto (Luciano) e o Enxofre (Eduardo), Bah! Só eu mesmo, enquanto a gente tomava uma caipira escondidos no banheiro, meu amigo punk perguntou se eu queria me apresentar no piano. Naquela hora me lembrei apenas da introdução de Subdivisions do Rush, mas a banda é punk? Não faz mal disse o Arisko pra mim, com a mão em meu ombro e rindo acidamente como sempre faz nos momentos em que está descontraído, O Feto e o Enxofre riam.

No palco, o Tela e sua banda de rock terminavam o show e nós já íamos nos apresentar dizia eu para minha mãe e minha tia, meus cabelos arrepiados (pois naquela época eu tinha cabelo) e minha pouca coragem só foi alimentada pelo meu amigo punk, ele disse: "vai lá cara toma uma aí e toca qualquer coisa"

O auditório lotado com uma duzentas pessoas, tomei coragem e subi com os Vermes em Decomposição Subdesenvolvida. Olhei pra trás. o Feto no vocal com um martelo gigante na mão, o Enxofre no baixo e o Guns na guitarra. Quando a gente vai tocar alguma coisa no palco se concentra no batera e lá estava ele, meu amigo punk louco para arrebentar o instrumento, Olhei para frente, tomei um gole de cachaça que o Tela me alcançou atrás do palco e iniciei a introdução de Subdivisions, quando terminei era apenas um fluxo de batida punk por todos os lados, energia pura e muito barulho. Meu amigo punk arrebentando na batera, aliás quase arrebentando a batera. rindo como sempre. Até que me dei conta que a apresentação acabou,
Quando olhei para o auditório vazio tive uma sensação de missão cumprida e de que seria eternamente grato ao meu amigo Punk, trinta anos de amizade não é pra qualquer um. OBS: Restaram apenas minha mãe e minha tia na platéia, a banda de Heavy Metal que ia se apresentar depois teve que cancelar, por devido, hã...falta de público.

Em homenagem ao Arisko (meu eterno amigo Punk)



Sala de Descontrole

E Para Terminar "Show Must Go On"

Composta por Waters no álbum The Wall Pink Floyd e mais tarde pelo Queen possuem a música com o mesmo título, sob diferentes aspectos ela...